Translate

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A Vitória do Rosário da Batalha de Lepanto

Por: John Vennari, 7 de outubro de 2016, Festa de Nossa Senhora do Rosário  - The Fatima Crusader, publicação 114, p. 22-29
Tradução: Traditio Catholicae
___________________________________________________________________________
Em 7 de outubro de 1571, o Papa São Pio V estava num encontro em Roma com os seus cardeais na Dominica Basílica de Santa Sabina.

O Papa se ergueu de repente, contemplou atentamente para fora da janela, voltou-se a seus prelados e disse, “Este não é o momento para negócios; apressem-se para agradecer a Deus, pois nossa frota obteve uma grande vitória contra os turcos”

Pio naquele instante obteve de Nossa Senhora uma visão da vitória naval de Lepanto, embora as notícias do triunfo não alcançariam Roma pelos canais naturais antes de duas semanas.

Pio se preparou bem para a batalha. Juntamente com os preparativos na ordem natural, São Pio V empreendeu em meios sobrenaturais. Ele exortou os católicos através da Europa a rezarem o Rosário, implorando a ajuda e proteção de Nossa Senhora. Nossa Santa Mãe respondeu. A data da batalha – 7 de outubro – é agora celebrada como a Festa do Santo Rosário.

Poucos anos após a batalha, em Veneza, uma magnífica capela votiva para a Madonna do Rosário foi dedicada em ação de graças. Localizada dentro da larga Basílica de Santi Giovanni e Paolo (São João e São Paulo), a capela permanece hoje como um esplêndido testamento do pode do Rosário.

Por que a capela é em Veneza? Porque a frota veneziana foi uma das três principais forças navais que asseguraram a vitória sobre os turcos em Lepanto.

A Ameaça do Islã

O Islã tem sido uma religião de conquistas desde a sua concepção. Os conflitos na Espanha que duraram 700 anos, a derrota de Constantinopla, o saque de Jerusalém que fez surgir as Cruzadas como uma contraofensiva: tudo isso e muito mais foram manifestações ininterruptas de agressão muçulmana.

No século que antecedeu a batalha de Lepanto, o Mediterrâneo era considerado como um “lago muçulmano”. Os turcos otomanos eram implacáveis em suas façanhas de conquista. Pelo século XVI, não havia poder marítimo maior que a frota islâmica turca.

Os muçulmanos pilharam, escravizaram, violaram e levaram destruição a todos os lugares que tentaram conquistar. Eles sequestravam meninos e meninas e os escravizavam para os desejos perversos de muçulmanos em Constantinopla e em outros lugares. Eles mataram civis desarmados aos milhares e forçaram cristãos capturados a servirem como remadores nos seus navios de batalha. Em Cipreste, não muito tempo antes da batalha de Lepanto, 500 soldados da guarnição veneziana se rendeu em termos aos muçulmanos. Uma vez que os portões da cidade estavam abertos, no entanto, os turcos correram a cidade, abateram a guarnição e brutalmente atacaram e estupraram civis. Inúmeras outras atrocidades, pior ainda, persistentemente aumentaram. Tal era a ameaça muçulmana que ameaçava toda a Europa.

A Cristandade sabia que o Islã planejava a conquista da Europa e de Roma em particular. O autor católico Christopher Check escreve que o “maior sonho, o sonho de todos os turcos”, o sonho ao qual os soldados do conquistador Suleiman “brindavam antes de sair em qualquer campanha era a conquista de Roma”.

São Pio V

O Papa São Pio V, o erudito e santo dominicano que ascendeu ao trono papal em 1566, entendeu a ameaça. Não tinha a abordagem moderna de covardia disfarçada de diálogo, mas de confronto viril contra o mal. "Estou pegando em armas contra os turcos", ele prometeu, "mas a única coisa que pode me ajudar é a oração dos padres de vida pura”.

Escreve o historiador veneziano John Julius Norwich que, para Pio, "o objetivo principal da Cristandade deve ser o de restabelecer o controle do Mediterrâneo central, cortando territórios africanos do sultão dos da Europa e Ásia, dividindo, assim, o seu império em dois".

Para atingir este objetivo, na primavera de 1571 Pio formou a Santa Liga - uma armada de navios de combate para enfrentar a frota naval do Islã. A Liga consistia de navios de guerra de Gênova, os Estados Pontifícios, Espanha e Veneza. A participação da República insular de Veneza, que possuía séculos de conhecimentos especializados de navegação, foi considerado crucial para o sucesso da Liga.

A união de Pio destas forças não foi nada pequena, de modo que várias disputas de facções assolavam a Europa. Veneza quase não tomou parte por causa de uma disputa com a Espanha sobre os territórios próximos a Milão. França e Polônia, ambos os quais poderiam ter se juntado à Liga, nunca fizeram. Diz-se que a Inglaterra protestante estava enviando ajuda aos turcos, de modo que o recente estabelecimento anglicano também não tinha nenhum amor a Roma papal; e nada melhor que um inimigo em comum para unir pessoas.

No entanto, a Santa Liga foi formada. Mais importante, Pio engajou em meios sobrenaturais. Ele chamou toda a Europa a rezar o Rosário pela vitória sobre os muçulmanos. Nisso, a Europa atendeu o chamado.

Na Liga com o Céu

Dom João da Áustria, o irmão ilegítimo do Rei Filipe II da Espanha, foi escolhido para liderar a frota. Vinte e seis anos de idade, um piedoso católico de excepcional boa aparência e um natural homem de liderança, se distinguiu nos anos anteriores por suprimir a ascensão dos mouriscos[1] na Espanha.

Como Pio V, Dom João reconheceu que sem a ajuda do Céu, a frota estaria condenada. Ele empreendeu toda arma espiritual à sua disposição.

Dom João proibiu mulheres de virem a bordo nas galeras[2]; declarou que blasfêmias seriam punidas com execução e toda a sua frota fez um jejum de três dias.

São Pio V garantiu Indulgência Plenária à tripulação e aos soldados da Santa Liga. Padres de várias Ordens e Congregações ficavam no convés oferecendo a Santa Missa e ouvindo confissões. Dom João deu um rosário a cada homem da frota.

A Batalha

A Batalha de Lepanto foi disputada no que hoje é chamado de Golfo de Corinto, próximo à Grécia. No dia da batalha, Dom João tomou o centro com sessenta e quatro galeras. A asa direita com cinquenta e cinco estava sob o espanhol Andrea Doria, que navegou em guerra aquele dia com uma imagem de Nossa Senhora de Guadalupe[3] a bordo; no flanco esquerdo estava as cinquenta e três galeras sob o comando do veneziano Augustino Barbarigo. Outros navios cristãos também se juntara à batalha.

Chamado de a maior campanha marítima desde a Batalha de Áccio em 31 a.C., a Batalha de Lepanto iniciou ao amanhecer. Os padres estavam ouvindo confissões até o momento de conflito e provavelmente mais além.

O padre Ladis Cizik explica: "Nas batalhas navais entre navios a remo, ‘o posicionamento’ é muito importante, no modo como o navio se esforça para bater o inimigo no lado para afundá-lo. Além disso, as forças católicas tinham um número de navios com as então inovadoras características de canhão montado na lateral; novamente, o posicionamento foi importante. Os navios turcos estavam dispostos em forma de meia-lua islâmica, com cerca de três milhas de comprimento. Os navios católicos estavam  dispostos na forma da Santa Cruz de Nosso Senhor. Naquele dia histórico, foi literalmente a Cruz de Cristo contra a (lua) crescente do Islã".

No momento decisivo da batalha, o vento misteriosamente deslocou em 180 graus. Os muçulmanos de repente encontraram o vento contra eles, o que colocou a frota turca em desordem. A batalha durou cinco horas; a frota cristã foi vitoriosa e cerca de 13000 galeotes a bordo dos navios muçulmanos foram libertados.

Um Triunfo do Rosário

Como observado, São Pio V recebeu uma comunicação milagrosa de Nossa Senhora no momento em que a batalha foi vencida. Pio adicionaria “Auxílio dos Cristãos” aos títulos de Nossa Senhora na Ladainha. 7 de outubro se tornaria a Festa de Nossa Senhora das Vitórias, mais tarde alterado para Festa de Nossa Senhora do Rosário.

O padre Cizik escreve: "A paz veio através da força na Batalha de Lepanto de modo que o poder do Rosário impulsionou as prontas forças católicas a uma vitória decisiva e histórica".

O historiador John Julian Norwich observou: "A batalha de Lepanto foi uma esmagadora vitória. De acordo com as estimativas mais confiáveis, eles perderam apenas doze galeras afundadas e uma capturada; as perdas turcas foram 113 e 117 respectivamente. As baixas foram pesadas em ambos os lados, como era inevitável quando boa parte dos combates foi frente a frente, mas, enquanto as perdas cristãs não são susceptíveis de terem excedido 15000, acredita-se que os turcos tenham perdido duas vezes esse número, excluindo o 8000 que foram feitos prisioneiros ".

Entre os cristãos feridos em Lepanto estava o espanhol Miguel de Cervantes, que sobreviveria para escrever o clássico Don Quixote.

Devidamente chamada de “a Batalha que salvou o Ocidente Cristão”, Lepanto  marcou o fim da supremacia islâmica dos mares e parou com sucesso a invasão islâmica na Europa (Muçulmanos agora retornam em grande número por meios de afrouxada imigração e refugiados – ver página 41) .

Lepanto também mudou a guerra no mar para sempre. Barcos a remo se enfrentando lado a lado  foram agora substituídos por navios armados com pólvora e canhão, iniciando um reposicionamento das embarcações de marinha.

Acima de tudo, a batalha de Lepanto, vencida pelo poder do Rosário, foi uma lição para uma desanimada Cristandade de que o Islã não era invencível.

Um mês depois de Lepanto, em 11 de Novembro de 1571, o Secretário de Estado de Veneza Juan Luis de Alzaomora escreveu a D. João da Áustria: "Não há nenhum homem na Corte que não discerne nisso a mão do Senhor e parece a todos nós como um sonho, em que nunca antes tal batalha foi vista ou ouvida falar ".

Do mesmo modo o historiador veneziano Paolo Paruta resumiu o sentimento do público na oração do funeral na (Basílica de) São Marcos, em Veneza, daqueles mortos em batalha: “Eles nos ensinaram pelos seus exemplos que os turcos não são insuperáveis, tal como tínhamos anteriormente acreditado que seriam... Assim, pode-se dizer que como o início desta guerra era para nós um tempo de pôr do sol, deixando-nos em uma noite perpétua, agora a coragem destes homens, como um verdadeiro sol que dá vida, derramou sobre nós o mais belo e alegre dia que esta cidade, em toda sua história, já viu".
O povo de Veneza viu esta vitória como a dissipação súbita da pesada nuvem negra que os tinham ofuscado durante dois séculos nos quais sentiam que seus dias estavam contados.

A Capela do Rosário

Na Basílica de Santi Giovanni e Poalo, católicos de Veneza logo dedicaram a magnífica capela votiva de Nossa Senhora do Santo Rosário em ação de graças. A capela foi construída pelo grande veneziano Alessandro Vittoria; seu teto foi pintado pelo famoso Paolo Veronese.

Tragicamente, em agosto de 1867, um incêndio quase destruiu a capela original, juntamente com algumas grandes obras de arte que eram armazenadas no prédio.

O trabalho de restauração logo começou e a capela foi solenemente reaberta ao público em 1959.

Ao entrar na Capela do Rosário hoje, o visitante fica impressionado com a atmosfera profundamente católica, interior impressionante e bela presença dominante da imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus, localizado sobre o altar principal. Justamente para fitar Sua santa imagem neste capela veneziana magnífica que dá uma sensação de esperança e segurança. Tudo sobre o lugar emana um ar de reverência e temor, juntamente com o elemento de intimidade Divina.

A capela é um monumento duradouro ao poder de Nossa Senhora e Seu Santo Rosário.

Ela nos lembra que contra as barreiras insuperáveis, as forças do Catolicismo - armadas com o Rosário, genuína liderança católica, a verdadeira fé e a renúncia ao pecado - pode prevalecer sobre o inimigo mais feroz.

Que Nosso Senhor nos conceda um pontífice como São Pio V, cujos esforços para a paz mundial n
ão repousem nem na sabedoria mundana, nem em diálogo com entidades pagãs, tais como as Nações Unidas.

Ao invés disso possa ser nossa geração abençoada com um Papa que confie primeiramente em Nossa Senhora do Rosário e prontamente obedeça Seus pedidos em Fátima.

Tal obediência irá resultar no período prometido de paz concedido ao mundo sem a necessidade de batalhas ou o derramamento de sangue humano. Este triunfo do Coração Imaculado será uma vitória ainda mais importante do que a conseguida por Nossa Santa Mãe em Lepanto.

Bibliografia selecionada: A History of Venice, John Julius Norwich; The Imperial Age of Venice 1380-1580, D.D. Chambers; Ten Dates Every Catholics Should Know, Diane Moczar; Venice and the Defence of Republican Liberty, William J. Bouwsman; “Our ady and lslam: Peace Through Strenght”, Father Ladis J. Cizik, Catholic Family News, nov. 2015; “The Battle that Saved Christia West”, Christopher Check, This Rock, março 2007; mais detalhes colhidos pelo autor durante uma viagem a Veneza em julho de 2015.
 
___________________________________________________________________________
Notas:

1. Os mouriscos eram mouros que haviam sido batizados mas que ainda mantinham em segredo práticas islâmicas.

Mouro, do latim mauri era um povo que vivia na região entre o que hoje são o Marrocos e a Argélia. Os mouros aderiram ao Islã no Século VIII após o contato com os árabes. Invadiram a península Ibérica em 711, dominando até 1250 quando os cristãos conseguiram recuperar a maior parte do território durante a ofensiva da Reconquista. Em 1492 encerrou-se definitivamente o domínio muçulmano naquela região.
2. Grande navio impulsionado principalmente por remos.
3. O almirante João Andrea Doria recebeu a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe do Rei Felipe II. A aparição de Nossa Senhora no México ao índio Juan Diego ocorreu em 1531, apenas 40 anos antes da Batalha de Lepanto, mas nesse curto espaço de tempo a devoção à Santíssima Virgem de Guadalupe já tinha alcançado a Europa.

A Batalha de Lepanto, por Paolo Veronese. No topo, a Virgem Maria com São Roque,
São Pedro, São Marcos e um grupo de anjos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário