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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Os castigos que Deus manda aos que O abandonam


Por: Germán Mazuelo-Leytón - Adelante La Fe, 8 de novembro de 2016

Tradução: Traditio Catholicae
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Nos últimos dias vários terremotos devastaram grandes áreas da Itália, o maior destes teve lugar nas regiões da Úmbria e Marcas, no centro da mesma, e neste 6 de novembro de 2016, um tornado atingiu a periferia da Cidade Eterna.  

Recentemente também, o padre Giovanni Cavalcoli O.P., que participou de um programa da Rádio Maria italiana, foi perguntado por um ouvinte sobre se catástrofes naturais, como o terremoto podem ser consequência de um povo e legisladores que fazem leis como as de união do mesmo sexo, aprovadas recentemente na Itália a qual chamou de contrária a Deus, o teólogo disse: tem-se a impressão de que estas infrações à lei divina, pensando na dignidade da família, do matrimônio, da união sexual, sugere que estamos diante, vamos chamar, de castigo divino.

Consequentemente a Rádio Maria da Itália anunciou a abolição imediata do programa mensal do padre, por considerar que suas afirmações sobre terremotos como castigo divino "não estão em conformidade com o anúncio de misericórdia, que é a essência do cristianismo e da ação pastoral do Papa Francisco”.

O eminente dominicano, ratificou em uma entrevista para o La Fede Quotidiana: "Creio e confirmo tudo o que eu disse. Em todo caso, deveriam pedir desculpas aos católicos aqueles que recentemente tem reavaliado, criando confusão, a Lutero que pode ter feito coisas boas, mas que era um herege. Sou um dominicano sério e de coluna reta, não um bajulador".

É doutrina da Igreja que todas as calamidades que podem levar os povos à reflexão, servem para a realização dos planos de Deus. [1]

Vamos à Bíblia para encontrar respostas. O profeta Amós dizia a seu povo da parte de Deus:

"Eu detive as chuvas quando havia ainda três meses para a colheita; fiz chover sobre uma cidade e que não chovesse sobre outra; parte do campo teve chuva, e a outra, sem chuva, secou. Duas, três cidades vagaram para outra cidade para beberem água sem poder se saciarem; mas não nos voltastes para Mim, diz o Senhor”.[2]

No tempo do profeta Elias, Deus castiga seu povo porque o rei Acab e sua esposa passaram para a idolatria e criaram numerosos sacerdotes de Baal; em nome de Deus Elias os ameaça: "Pela vida do Senhor, Deus de Israel, a quem sirvo, não haverá nestes anos nem orvalho nem chuva, exceto pela minha palavra ". [3]

Elias foge da ira do rei que sublinhou a ameaça de Deus, enquanto os sacerdotes do ídolo Baal foram ridicularizados por serem incapazes de obter a chuva do céu. Fracassam novamente os baalistas, triunfa Elias, fazendo descer fogo do céu que devora seu sacrifício.

Convencido o rei deixa Elias executar a justiça, decapitando os sacerdotes dos ídolos “Então Elias disse a Acab: 'Vai, come e bebe, porque já ouço o ruído de uma grande chuva'. Voltou Acab para comer e beber, enquanto Elias subiu ao cimo do monte Carmelo, onde se encurvou por terra, pondo a cabeça entre os joelhos. Disse ao seu servo: 'Sobe um pouco, e olha para as bandas do mar'. Ele subiu, olhou (o horizonte) e disse: 'Nada'. Por sete vezes, Elias disse-lhe: 'Volta e (olha)'. Na sétima vez o servo respondeu: 'Eis que, sobe do mar uma pequena nuvem, do tamanho da palma da mão'. Elias disse-lhe: 'Vai dizer a Acab que prepare o seu carro e desça, para que a chuva não o detenha'. Num instante, o céu se cobriu de nuvens negras, soprou o vento e a chuva caiu torrencialmente. Acab subiu ao seu carro e partiu para Jezrael”. [4]

Somente quando eles destruíram os ídolos, aceitaram o poder do Deus verdadeiro, executaram os culpados e se humilharam à majestade divina, Elias mandou por parte de Deus e a chuva caiu abundante.

Com a intenção de Israel reconhecer seus pecados e converter-se verdadeiramente para Deus, também escreve Jeremias: “Judá está coberta de luto, e às suas portas enlanguesce o povo, a cabeça pendida para a terra. De Jerusalém se levanta um clamor de angústia. Os grandes da cidade enviaram os servos à procura de água. Encaminham-se estes às cisternas; água, porém, não encontram, e voltam com os recipientes vazios, envergonhados, confundidos, cobertas as cabeças”. [5]

Com estes textos magníficos e expressivos do Antigo Testamento, a situação de pecado e abandono das obrigações do tempo de Jeremias ou de Elias, não lhe parece demasiado com o pecado e a negligência dos nossos dias?

Deus recorre a todos esses meios para que o homem sinta que Ele, o Infinito e o Criador, não precisa de ninguém e que, pelo contrário, o homem precisa de Deus.

A guerra, as doenças, desastres de todos os tipos e acima de qualquer outra coisa, calamidades de ordem intelectual e moral pode afetá-los e levá-los ao arrependimento. Nosso Senhor Jesus Cristo nos diz de todos esses males. Ele fala de todo o grande mal da cegueira. Dirigindo-se aos judeus: Este povo não compreenderá, disse, porque não pode entender, e não consegue entender porque não quer entender. Estas palavras devem ser entendidas no sentido de uma punição social. Não há nada pior que ser-se a causa de seu próprio mal, por não querer compreender. Os judeus - e Nosso Senhor lhes reprovou - não compreendem que Ele é o Messias, o Filho de Deus, de modo que para a nação judaica a única forma de [terem] salvação é o reconhecimento e a profissão da Divindade de Jesus Cristo. No entanto, o povo judeu persiste em sua determinação de não compreender que essa é a realidade, e Deus lhes fala desta maneira: Ó povo que és meu povo, há apenas para vós um meio de salvação: Jesus Cristo. Aceitem-No e serão salvos. E o povo responde: Não quero compreender que esta é a realidade. E Deus responde-lhe: Posto que não querem entender, aceito a sua vontade: não compreenderás. Este é o castigo que lhes dou. [6]

Daí que a Igreja ao longo de sua história tem sido povo de Deus suplicante ante à tribulação: perseguições, catástrofes, guerras, invasões, cismas, heresias, epidemias, secas.

"Por causa de miseravelmente haverem se separado de Deus e de Jesus Cristo, os homens decaíram de sua felicidade passada nesse abismo de males; pela mesma razão, todos os programas que tramavam para reparar as perdas e salvar o que resta entre tanta ruína, caíram em esterilidade quase completa. Como se excluiu Jesus Cristo da legislação e dos assuntos públicos, as leis perderam a garantia das sanções reais e eficazes”.

Disse o Papa Bento XV: "Assim como o desarranjo dos sentidos em outro tempo precipitou as mais célebres cidades em um mar de fogo, também em nossos dias, a impiedade da vida pública, o ateísmo posto como sistema de pretensa civilização tem precipitado o mundo em um mar de sangue... as calamidades presentes não terão fim  até que a humanidade se volte para Deus". [7]

O Criador recorre a todos esses meios para que o homem sinta que Ele, não precisa de ninguém e que, pelo contrário, o homem precisa de Deus.

Até poucos anos atrás, as orações dos fiéis ecoavam e encontravam resposta favorável; toda a Igreja incessantemente orava a Deus, pedindo-lhe para libertar dos grandes males. O povo cristão especialmente nas áreas agrícolas, que normalmente necessitam de água para as suas culturas, se perguntam se será [esse] um verdadeiro castigo de Deus pelo esquecimento do povo de suas obrigações?

Santo Agostinho já nos advertiu: "Deus quer ser rogado, forçado, vencido, por nossas importunações". Lembremos do exemplo proposto pelo mesmo Jesus: de um amigo que visita outro no meio da noite, para pedir pão, e apesar da negativas, insiste até conseguir o que tinha sido negado várias vezes, para não seguir incomodando seu amigo e sua família (cf.: São Lucas 11, 5-13), é verdade que pode bastar a oração de dez justos para conseguir que Deus evite a destruição da cidade (Gênesis 18, 32); mesmo Jesus promete: Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus (São Mateus 18, 19)... mas também é verdade, certamente, que o Senhor quer, e assim ensina a tradição católica, que os pastores nas graves aflições da Igreja, não se contentem com a oração de dois ou três reunidos em nome de Jesus (Mt 18, 20), mas que promovam com maior empenho o poderoso clamor de toda a Igreja.[8]

No capítulo 24 de São Mateus lemos:

"Ouvireis falar de guerras e de rumores de guerra. Atenção: que isso não vos perturbe, porque é preciso que isso aconteça. Mas ainda não será o fim. Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino, e haverá fome, peste e grandes desgraças em diversos lugares. Tudo isto será apenas o início das dores. Então sereis entregues aos tormentos, matar-vos-ão e sereis por minha causa objeto de ódio para todas as nações. Muitos sucumbirão, trair-se-ão mutuamente e mutuamente se odiarão. Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos. E, ante o progresso crescente da iniquidade, a caridade de muitos esfriará. Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo. Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações, e então chegará o fim. Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação que foi predita pelo profeta Daniel [9,27] - o leitor entenda bem.”

Precisamos voltar aos tempos do clamor eclesial, da oração incessante, voltado ao Criador, ao invés da criação. Voltar ao culto do verdadeiro Deus: "Perdôo... não vou destruí-lo... não o farei."


[1] Philippe, C.SS.R, Padre A., Catecismo da Realeza Social de Jesus Cristo.
[2] Amós 4, 7-8.
[3] 1 Reis 17, 1.
[4] cf.: 1 Reis 18, 41-45.
[5] Jeremias 14, 2-3.
[6] Philippe, C.SS.R, Padre A., Catecismo da Realeza Social de Jesus Cristo.
[7] Bento XV, Alocução consistorial, 24-12-1917.
[8] IRABURU, P. JOSÉ MARÍA, Oraciones de la Iglesia en tiempos de aflicción.
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Comentário:

Se por um lado não se pode afirmar com certeza que determinadas catástrofes são fruto de um castigo divino, por outro, a contar pela história, principalmente nos relatos bíblicos, é algo não raro e que não se pode descartar, muito menos usando a misericórdia divina para negar esta possibilidade.

C
hama muito a atenção o simbolismo que trás alguns eventos catastróficos. Tem sido cada vez mais comum casos como o de igrejas que apesar de toda a destruição a que são submetidas por tempestades, furacões, terremotos, incêndios, etc, mantém de pé crucifixos e imagens santas, principalmente da Virgem Santíssima. Com isso Deus nos mostra Sua presença e Seu poder acima de qualquer força humana ou da natureza, ao passo que nos serve de alerta, além de nos mostrar que é Ela, a Mãe de Deus, Aquela que detém o pesado braço da justiça divina através de Sua intercessão.

O
s mais recentes tremores de terra na Itália atingiram Norcia, destruindo quase que completamente a Basílica de San Benedetto, ficando de pé apenas sua fachada. São Bento é o padroeiro da Europa, a mesma Europa que de um modo geral, principalmente na região ocidental, que já foi o centro do catolicismo é apenas aparentemente cristã; em sua fachada. Além da sociedade em geral ter se afastado de Deus em suas leis e seus modos de vida, o próprio clero católico tem passado por uma crise de fé sem precedentes devido à contaminação por doutrinas anticatólicas que tem invadido nossas igrejas na liturgia, na ação pastoral e na teologia. Assim, a destruição de tão importante basílica tem um grande significado para o continente europeu e seu simbolismo soa como um sinal e uma advertência.

Na história mais recente, durante as aparições em Fátima, na terceira aparição ocorrida no dia 13 de julho, Nossa Senhora apresenta a II Guerra Mundial e a disseminação dos erros da Rússia (o comunismo) e suas consequências, como castigos do Céu:


" - Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores - disse por fim -. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra [1] vai acabar. Mas, se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior.[2]Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo pelos seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre." [3]

Portanto, o castigo divino não é uma falta de misericórdia mas uma justiça.

Talvez o mais famosos caso de punição divina sobre um povo seja o das cidades de Sodoma e Gomorra que foram destruídas sob uma chuva de "enxofre e fogo" (G
ên. XIX, 24-26) devido a seus inúmeros pecados de imoralidade, o principal deles o da prática do homossexualismo, também chamado de sodomia justamente em referência à cidade bíblica. Na ocasião, dois anjos dirigiram-se à Sodoma de modo a tirar Lot (sobrinho de Abraão) e sua família da cidade que estava prestes a ser destruída. Homens da cidade, desde jovem a velhos ao verem os dois anjos (na forma humana masculina) entrarem na casa de Lot, bateram à casa deste exigindo a saída dos dois visitantes para que eles os "conhecessem" (Gên. XIX, 1-5).  Esse termo "conhecer" é o usado com pudor na Bíblia para dizer que os habitantes da cidade queriam abusar sexualmente deles. No fim, Lot, sua esposa e filhas saem da cidade e esta é então castigada, destruída por completo.

É esse mesmo pecado - que de acordo com o Catecismo Maior de S
ão Pio X [4], brada ao Céu por vingança - que passou a ser amparado recentemente pela lei italiana na forma da união civil de pessoas de mesmo sexo e que o padre Giovanni Cavalcoli denunciou em seu comentário na rádio. Não se tratou portanto de falta de misericórdia da parte do sacerdote, mas sim do seu dever e um ato de caridade, em se tratando do alerta da consequência que leis como estas - contrárias à lei divina - podem trazer para seu povo, fisicamente e principalmente espiritual.

Fala-se de uma grande batalha que o demônio está travando com Nossa Senhora pelas almas, cujo alvo é o matrimônio. De fato, nunca o 
matrimônio foi tão atacado e de tantas formas como hoje.

Sagrada Família, modelo de todos os Santos,
Rogai por nós!


Notas:
1. Nossa Senhora fala da I Guerra Mundial (1914-1918) que estava em curso.

2. Essa outra guerra ainda pior que a Mãe de Deus se refere é a II Guerra Mundial (1939-1945).
3. WALSH, William Thomas. Nossa Senhora de Fátima. São Paulo: Quadrante, 2015. p.97.
4. Catecismo Maior de São Pio X, Quinta Parte, Capítulo VI, Questão 963.

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